Angola. Os Símbolos do Poder na Sociedade Tradicional

Categoria:

Descrição

O poder não existe nem se mantém sem símbolos. Num espaço onde a consciência da diversidade étnica tende a revalorizar cada vez mais a dinâmica do tradicional, tem interesse, não meramente académico, proporcionar uma visão, ainda que de relance, sobre a rica simbologia elaborada pelas diferentes formas de organização do poder tradicional. Esta será também uma das muitas formas concretas de “reunir dados que permitam definir e ilustrar a identidade cultural dos povos bantos, de outrora e de hoje”, objectivo prioritário do “Centro Internacional de Civilização Bantu”, organização recentemente criada para o estudo e preservação do património cultural comum à Africa banta. Angola constitui um campo particularmente rico em tradições culturais deste tipo. No seu território se desenvolveram numerosos principados e famílias em que o poder se exercia sob formas variadas de realeza. Desta diversidade se procurou dar conta na selecção dos objectos expostos; na elaboração de textos, porém, não foi possível ir além dos grupos mais representativos: os Kongo (em particular o sub-grupo Woyo) e os Ovimbundu. Sofrendo as vicissitudes das diferentes histórias africanas (pré-colonial, colonial, pós-colonial) os símbolos do poder a todas sobreviveram mesmo quando confinados apenas à sua componente ritual. Aí terá havido mesmo um alargamento determinado pela incorporação de símbolos aculturados nomeadamente de natureza religiosa (crucifixo e terço, entre outros). As diferentes colecções antropológicas espalhadas pelo mundo são, nalguns casos, testemunhos únicos desse “espectáculo do poder” que só na aparência desapareceram já que ele continua bem vivo no interior de todos. Alguns testemunhos destes símbolos foram recolhidos há menos de meio século (M.A.F. de Oliveira), outros renascem de um aparente estado de letargia tomando nova expressão (veja-se em particular a crescente reivindicação do papel da mulher na transformação da sociedade angolana e a componente feminina do poder na tradição dos Kongo – M. L. Rodrigues de Areia); outros ainda manifestam-se na exigência coerente de que os detentores do poder se assumam como defensores da vida e do que a condiciona – um evidente reflexo do conceito tradicional do chefe carismático (realeza sagrada) a quem era imputada a fecundidade dos campos como a das mulheres, a ocorrência da chuva como o flagelo das secas. A análise dos testemunhos de realezas tradicionais, que são do passado, não pode deixar de suscitar, para além da inferência dos mecanismos de simbolização decorrentes de estruturas sociais, também elas do passado, a questão, essa sempre actual, dos “sistemas do poder e das condições da sua constituição e transformação ” O. Houart); por um lado, eles proporcionam a evocação de um passado que se reafirma como elemento de identidade cultural; por outro, eles justificam um novo discurso sobre o exercício do poder. [M. L. RODRIGUES DE AREIA]

Informação adicional

Autor
Data

,

Edição

2.ª Edição

Série

DOI

10.14195/978-989-26-1904-0

eISBN

978-989-26-1904-0

ISBN

978-989-26-1903-3

Páginas

100

Adicionar Wishlist
Adicionar Wishlist